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março 20, 2025
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Como as mudanças climáticas têm impactado a educação das crianças no Brasil

A educação é um dos serviços mais frequentemente interrompidos por eventos climáticos extremos. Em 2024, mais de 1,1 milhão de estudantes brasileiros tiveram suas atividades escolares impactadas por desastres climáticos, sendo as enchentes a principal causa de fechamento das escolas. Os sistemas educacionais do país não estão preparados para enfrentar os desafios impostos pela crise climática, e os investimentos financeiros para mitigar esses impactos permanecem extremamente baixos. Além disso, o governo federal reduziu o orçamento destinado ao gerenciamento e redução de riscos de desastres ambientais, agravando ainda mais a vulnerabilidade das escolas e comunidades afetadas.

Impacto das Mudanças Climáticas na Educação no Brasil

O relatório “Aprendizagem Interrompida: Um Retrato Global das Perturbações Escolares Relacionadas ao Clima”, do Unicef publicado em janeiro, revelou que 1.178.435 estudantes brasileiros tiveram suas aulas interrompidas por desastres climáticos. Os principais fatores responsáveis por essa interrupção foram:

  • Enchentes, especialmente no Sul do Brasil.
  • Ondas de calor, que tornaram as salas de aula insuportáveis.
  • Secas, que impactaram escolas no Norte do país.

O relatório alerta que os sistemas educacionais não estão preparados para enfrentar esses desafios e que os investimentos financeiros continuam baixos.

O que dizem nossos Embaixadores?

Nos dias mais quentes, os efeitos do calor extremo na aprendizagem se tornam evidentes. Perguntamos aos nossos Embaixadores da Justiça Climática, crianças de 9 a 11 anos, como eles e os colegas se sentiam na escola nessas condições, e os relatos mostram o impacto direto das altas temperaturas no desempenho escolar.

“Eles ficam muito cansados, quando vai fazer atividade fica muito calor e eles não conseguem escrever muito, eles precisam falar para a tia: ‘Posso ir ao banheiro? Porque lá se sente mais fresquinho’” Marlon,PE.

Além disso, o calor intenso prejudica a concentração e o bem-estar físico: “A gente fica todo molhado e com uma dor de cabeça insuportável, aí não dá para se concentrar nas perguntas.João Carlos, PE”

Em algumas ocasiões, as turmas precisaram realizar as atividades ao ar livre para tentar aliviar o desconforto: “Teve dias que estavam muito calor que tivemos que fazer a tarefa do livro lá fora.Helena, PE”

Outro estudante destacou como o calor afeta seu estado emocional: “No calor eu fico nervoso e não dá pra me concentrar na tarefa.”Abraão, PE

Esses depoimentos reforçam a urgência de adaptar as escolas para as mudanças climáticas cada vez mais extremas, garantindo que o aprendizado não seja comprometido.

Infraestrutura Escolar Inadequada

De acordo com o estudo “O Acesso ao Verde e a Resiliência Climática nas Escolas das Capitais Brasileiras”, do MapBiomas e Instituto Alana (2024):

  • 64% das escolas estão em territórios com temperatura pelo menos 1°C acima da média urbana.
  • 52,4% das escolas em favelas não possuem área verde, o que agrava o impacto do calor.

Ondas de Calor no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul já sente os impactos severos das ondas de calor, que afetam a qualidade de vida, a saúde pública e a infraestrutura do estado. Dados recentes indicam que:

  • Temperaturas recordes têm sido registradas desde janeiro de 2025, superando 40ºC em diversas regiões do sul do país.
  • O aumento da temperatura impactou significativamente a saúde, causando desidratação e aumento de doenças respiratórias.
  • A falta de infraestrutura escolar levou diversas instituições a interromperem as aulas devido ao calor excessivo: o início das aulas foi adiado em 2.320 escolas da Rede Estadual, que atende cerca de 700 mil alunos.

O vereador de Canoas, Cris Moraes, que presidia a Câmara Municipal enquanto realizávamos mais de 20 atividades na cidade, comentou: “Essa é uma situação inédita, já tivemos paralisações escolares devido a enchentes e temporais, mas o calor extremo como fator principal para adiamento das aulas é algo novo. Isso reforça como as mudanças climáticas estão acelerando e trazendo desafios inesperados para a sociedade.”

Medidas para um Ensino Mais Resiliente

O relatório “Aprendizagem Interrompida: Um Retrato Global das Perturbações Escolares Relacionadas ao Clima” propõe as seguintes soluções:

  1. Infraestrutura Escolar Segura
    • Construção de escolas resistentes a enchentes e ondas de calor.
    • Instalação de sistemas de ventilação natural e sombreamento.
  2. Opções de Ensino Remoto
    • Implementação de plataformas digitais para manter o ensino durante crises.
  3. Capacitação de Professores e Educação Climática
    • Inclusão de conteúdos sobre mudanças climáticas no currículo escolar.
    • Formação de docentes para atuar em emergências.
Embaixadores da Justiça Climática na Academia realizada no Rio de Janeiro em 2024.
Embaixadores da Justiça Climática na Academia realizada no Rio de Janeiro em 2024.

Preparando Crianças e Jovens para Enfrentarem os Desafios do Presente

Diante dos desafios impostos pela crise climática, não basta apenas reagir aos desastres: é essencial preparar as futuras gerações para lidar com essa nova realidade. A educação climática tem um papel fundamental nesse processo.

Na Plant-for-the-Planet, por meio das nossas Academias, capacitamos crianças e jovens a compreenderem os impactos das mudanças climáticas e a se tornarem agentes de transformação.

Durante as Academias, as crianças plantam árvores e são incentivadas a discutir sobre a crise climática dentro e fora da sala de aula. Elas aprendem sobre o problema e se tornam parte ativa da solução. Ao integrar a educação climática nos currículos escolares, garantimos que o tema seja tratado de forma contínua, evitando que as discussões sobre o clima sejam esquecidas após cada desastre.

Como bem destacou Maria Lucia Larroza, nossa voluntária em Canoas/RS:
“As ações só são debatidas após cada desastre, e logo depois caem no esquecimento. Precisamos de um planejamento contínuo para proteger o direito à educação e garantir um futuro seguro para nossas crianças.”

A crise climática já está impactando a educação no Brasil, mas, juntos, podemos transformar essa realidade. Empoderando crianças e jovens, investindo em soluções baseadas na natureza e exigindo políticas públicas eficazes, podemos garantir um futuro mais justo e sustentável para as próximas gerações.